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Entrevista:

alberto cairo

Por Katharina Farina

O designer Alberto Cairo é autor de “Infografía 2.0: Visualización interactiva de información en prensa” e “The Functional Art: an Introduction to Information Graphics and Visualization”. Ele já deu aulas sobre infografia em mais de 20 países, compartilhando a experiência que reuniu nas redações do jornal El Mundo (na Espanha), em que liderou a criação do departamento de Infografia Interativa em 2000, na Editora Globo, onde foi diretor de Infografia e Multimídia em 2010 e 2011, entre outros lugares. Atualmente, Cairo é professor da Escola de Comunicação da Universidade de Miami.

 

Você já deu aula sobre infografia em mais de 20 países. Você observou diferença na aceitação do jornalismo visual, dependendo do país?

 

Sim, ela existe. Nos Estados Unidos, por exemplo, o jornalismo visual, ou jornalismo de dados, é muito aceito e está crescendo de um jeito muito rápido, como uma das áreas que ainda oferecem emprego dentro do jornalismo. Em outros países, também – na Espanha, está crescendo, ainda que num ritmo um pouco menor. No Brasil, por causa da crise, eu acho, parou esse crescimento, até caiu. Mas cresce de jeitos diferentes. Por exemplo, nos Estados Unidos, o que está crescendo mais é a visualização de dados: pegar dados quantitativos, acrescentar eles por meio de gráfico estatístico, por meio de mapa de dados, etc. Em outros países, o que cresce mais é uma infografia um pouco mais tradicional, baseada em ilustrações – o que é ótimo – mas são filosofias diferentes de trabalho.

 

E quanto a pensar como o leitor, em vez de um designer ou jornalista - você percebeu se os infografistas têm mais facilidade de se deslocar para o papel de leitor, dependendo do país?

 

Não, eu acho que não. Eu acho que é tão difícil fazer esse processo nos Estados Unidos quanto no Brasil, quanto na Espanha, quanto na Ucrânia - e em outros países que eu conheço. Designers em outros lugares têm os mesmos desafios. Ao longo do livro, você repete a ideia que um infográfico precisa primeiro ser planejado no nível da informação, para depois ser desenhado.

 

Você observa rotinas diferentes dessa recomendação nas redações? Observou alguma diferença entre as redações de jornais impressos, que trabalham com espaço limitado, das redações de portais de notícia ou jornais online, que podem criar infográficos maiores?

 

Aí sim eu percebo diferenças. Se você compara os jornais “no topo” nos Estados Unidos – o New York Times, o Washington Post – e os compara com os jornais que estão no topo na Espanha, por exemplo, El Mundo, El País, tem algumas diferenças bastantes notáveis. Por exemplo, o rigor na informação, a seriedade na informação e o contraste nas informações é muito maior, eu acho, nos jornais estadunidenses do que nos jornais espanhóis – muito mais. E também acontece, eu acho, com jornais brasileiros – um jornal brasileiro no topo, como a Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo, fazem um trabalho de infografia ótimo, mas eu acho que não chega no mesmo nível de profundidade, de rigor, do que nos Estados Unidos, ainda. Então, tem diferenças, sim.

 

Um dos conceitos apresentados no livro The Functional Art é a ansiedade de informação, definida por Richard Saul Wurman como “o buraco negro entre dados e o conhecimento”. De que maneira a infografia pode ajudar a reduzir esse buraco negro?

 

Ela ajuda, basicamente, porque ela aproveita o que o ser humano consegue fazer melhor: descobrir padrões, tendências, de forma visual. Então, essa informação é baseada na capacidade do cérebro humano de só processar uma série, uma quantidade de inputs limitada num espaço de tempo. Com a infografia, a visualização facilita o ato de condensar, sumarizar esses dados e apresentá-los como padrões visuais. E nós somos muito bons percebendo padrões visuais, baseados em cor, baseados em tamanho, baseados em posição de objeto, etc. O cérebro humano evoluiu para isso.

 

Partindo do princípio que o designer e o jornalista codificam dados na forma de uma mensagem, e o leitor a decodifica, o que se deve fazer para pensar em um código que será decodificado pelo maior número possível de pessoas? Em outras palavras, como fazer para criar um código que qualquer leitor entenda?

 

Não tem um código que todo leitor vai entender porque, basicamente, ler um gráfico está baseado em você conhecer a gramática desse gráfico. Por exemplo, todo mundo pensa que ler um gráfico de barras, ou um gráfico de linhas, é uma coisa natural. Uma coisa que a gente nasceu aprendendo a fazer. Não é verdade – a gente aprendeu na escola como ler um gráfico de barras, como ler um gráfico de linhas. Então, o que acontece é que para poder ler uma infografia, os leitores primeiro precisam se educar, vendo esse tipo de visualização. Um leitor que vê pela primeira vez um mapa de dados provavelmente não vai entendê-lo muito até prestar atenção nele. E aí ele (ou ela) aprende como ler esse tipo de mapa de dados. Aí, na próxima vez em que ele (ou ela) ache esse mesmo tipo de mapa de dados, já vai poder ler naturalmente, porque já aprendeu a gramática. É todo um processo, eu acho, educativo. Não é questão de buscar um código universal, mas de expandir o conhecimento dos códigos já existentes: educar o leitor, ajudar os leitores a se educarem.

 

No livro The Functional Art há uma citação de Evgeny Morozov: “Journalists, always keen to sacrifice nuance in the name of supposed clarity” [Jornalistas, sempre querendo sacrificar detalhes em nome de suposta clareza – em tradução livre]. Você vê esse problema no jornalismo visual, também?

 

Eu acho que sim, é um problema do jornalismo visual. Tem muito designer que acha que infográfico é uma coisa para simplificar informação – eu acho que a palavra simplificar é muito perigosa. A gente não está aqui necessariamente para simplificar, precisa esclarecer, que é uma coisa diferente. Às vezes, esclarecer informações implica na redução da quantidade de informação que você apresenta para o leitor. Mas em muitas ocasiões, para você apresentar uma história clara, precisa aumentar a quantidade de dados. Se você não faz isso, muitas vezes vai acontecer que você vai apresentar uma informação que é incompleta, que tem um viés. Às vezes, esclarecer implica aumentar a quantidade de nuances que o Evgeny Morozov falava.

Foto: Reprodução

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