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Jornalismo e empreendedorismo: a internet é a alma do negócio

O cenário do mercado jornalístico não é animador. Desde 2012, foram demitidos mais de 4 mil funcionários em empresas de mídias, sendo 1.366 jornalistas. Em 2015, segundo o Instituto Volt Data, 617 funcionários da imprensa foram demitidos. Então, como sobreviver dentro deste mercado? Novas iniciativas estão ganhando espaço na internet. Atender às demandas do público continua sendo o segredo para o sucesso.

 

O Instituto Gênesis da PUC-Rio, uma incubadora de empresas na universidade carioca, lida com essas novas iniciativas. A gerente do Programa de Cultura Empreendedora, Julia Zardo, afirma que o mercado jornalístico mudou. Segundo ela, antes existiam duas alternativas: trabalhar em grandes conglomerados ou ser jornalista freelancer. Para Julia, agora é a era do empreendedorismo.

 

– Hoje a gente tem a possibilidade de ter o micro empreendedor, de um grupo que vai poder vender produto ou serviço para essas grandes marcas. Desse modo, o jornalista não fica tão descoberto, tão sozinho, como ficava o freelancer.

Assista aqui ao vídeo da gerente do Programa de Cultura Empreendedora, Julia Zardo. Ela fala sobre o momento do mercado jornalístico. Como os jornalistas podem criar os seus próprios negócios?

Por Diego Mello, Gustavo Santana, Hugo Mattos, Isabella Rocha e Michele Freitas

Júlia Zardo: Reprodução

O professor de Novas Mídias e Marketing da PUC- Rio, Luiz Léo, é um incentivador de jovens empreendedores. Com um mercado de trabalho mais seletivo e excludente para os jornalistas, o professor acredita que o jovem deve empreender novos caminhos para mostrar o seu verdadeiro talento. Para ele, um projeto bem estruturado com um conteúdo de qualidade pode atrair o investimento de empresas.

 

– Para esses empreendimentos serem viáveis e atraírem investimentos de terceiros, eles têm que ter conteúdo elaborado, com qualidade, que atraia um fluxo de pessoas.

 

O jornalista Mattheus Rocha, sócio fundador e diretor executivo da agência de marketing digital Fizzy, acredita que, com o advento da internet, os novos trabalhos jornalísticos se espalham com mais facilidade.

 

– Blogs, sites e vídeos no canal do Youtube são bons exemplos de conteúdos que tem chance de darem certo. E, futuramente, podem vender o espaço publicitário e ganhar dinheiro com isso.

 

Um projeto que está dando certo é o Politique, lançado em junho por seis jovens estudantes de jornalismo da PUC-Rio: Davi Raposo, Bárbara Baião, Caroline Brizon, Júlia Cople e Marina Ferreira. A proposta é explicar o que acontece na política brasileira e internacional. Para eles, a fórmula do sucesso é o tipo de linguagem simples e jovem. O projeto, que chamou a atenção pela iniciativa de jovens interessados por política em um cenário em que dizem que essa geração não se importa com temas mais “difíceis”, vem atraindo redes que querem lucrar com os acessos. No entanto, o grupo ainda não pensa em monetizar o trabalho.

 

– Bom, ainda não chegamos a um consenso sobre como monetizar o Politique. No momento, nós estamos preocupados em ajustar o formato e a linguagem – explica Júlia Cople, estudante do 6° período de jornalismo da PUC-Rio e de direito da UFF.

 

O formato e a linguagem, inclusive, já mudaram. Nos primeiros vídeos do Politique, os participantes apareciam em duplas falando para a câmera sobre determinado assunto. Agora, eles gravam uma conversa informal com a opinião deles sobre o mundo político. Em cinco meses, a página alcançou 3.636 curtidas e alcançou 41.456 visualizações.

Luiz Léo: Weiler Filho / PUC Urgente

Politique: Reprodução

Marina Ferreira e Júlia Cople têm um recado para todos os estudantes de jornalismo.

Se a política tem dado cliques, imagine o futebol. Rica Perrone começou seu blog para falar diretamente com os torcedores, e se tornou o maior blogueiro esportivo do Brasil. Sua Fan Page no Facebook tem 232.810 seguidores. O jornalista, que inicialmente abordava assuntos relacionados ao São Paulo Futebol Clube, expandiu para o cenário nacional, fazendo de sua paixão pelo futebol um meio de vida. O jornalista comenta sobre as principais dificuldades em ter um veículo alternativo:

 

– Hoje o novo jornalista tem que realizar um trabalho com qualidade e vestir a camisa de seu projeto. O novo jornalista tem que ter um contato direto com o público, e as mídias sociais são fundamentais para criar identificação. O conteúdo deve ser de qualidade e despertar o interesse do leitor. Com qualidade e conteúdo o usuário vai se engajar e se tornar uma pessoa fiel ao blog.

 

Rica Perrone ressalta que não é o blog ou outro veículo que faz você obter sucesso. O reconhecimento que você ganha é devido ao seu trabalho, seu conteúdo.

 

– Se você fizer um negócio diferente, que não tenha, um negócio bem feito, um negócio que surpreenda as pessoas, fatalmente vai dar certo. Faça uma coisa que as pessoas não estão pedindo. A ideia de buscar o que está faltando não existe. Devemos surpreender! Deve-se criar um negócio novo. Se está faltando você já sabe o que é. Então, deve-se criar um negócio novo. O importante é meter a cara no projeto e garantir sua qualidade.

 

Para o professor Luiz Léo, a principal característica de um jornalismo alternativo é saber utilizar a informação ao lado da inovação. Dentro da ideia de transformar um projeto rentável, Luiz Léo diz que a busca por um primeiro investidor no veículo alternativo é o Google AdWord. Ainda segundo Luiz Léo, é uma das ferramentas que mais atrai os investidores. A utilização deste serviço de publicidade do Google, faz o trabalho com um sistema chamado de CPC (custo por clique) e consiste em anúncios em forma de links encontrados. Sendo assim, a página ganharia um bom fluxo de pessoas e seria viável para um investimento. A forma de rentabilizar com investidores do mercado tradicional também é uma alternativa para os veículos. Muitas empresas do mercado convencional desejam migrar para um público mais segmentado e com uma exigência de investimento menor.

 

O crowdfunding também é uma via que o professor cita como uma forma de conseguir esse investimento para o veículo alternativo. Esse financiamento coletivo consiste na obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas na iniciativa. Essa forma é tratada pelo professor como mais arriscada, porém é uma saída para não contar com o investimento do mercado de publicidade.

 

Alguns jornalistas encontraram no crowdfunding uma oportunidade de dar o pontapé inicial em seus projetos e até melhorá-los. É o caso da Agência Pública. O portal de reportagem e jornalismo investigativo segue um modelo sem fins lucrativos e busca ajuda de parceiros para continuar “produzindo o bom jornalismo de maneira radicalmente independente”. Além das fundações parceiras, como a Fundação Ford, os leitores podem fazer doações. Saiba como no site da Agência Pública.

 

Mattheus Rocha diz que o maior trunfo que um jornalista deve ter é saber se adaptar às mudanças e procurar estar sempre atualizado para sobreviver ao mercado. De acordo com ele, o jornalismo de hoje está bem diferente do que o jornalismo tradicional.

 

– Ser jornalista não é fácil. É preciso saber se adaptar às mudanças, tecnologias, aproveitar oportunidades, se posicionar de forma correta. Além disso, é uma área na qual é preciso estudar sempre, se atualizar constantemente, dominar novas técnicas. O jornalista moderno, que trabalha com internet, precisa dominar técnicas de marketing de conteúdo, webwriting e storytelling, além de compreender o comportamento do seu público-alvo na internet, que mídias ele utiliza, que palavras-chave ele procura no Google. Ou seja, são técnicas e conhecimentos diferenciados da mídia “tradicional”.

 

Assim como Mattheus, Júlia Zárdo acredita que o jornalista de hoje deve pensar além da graduação de quatro anos, porque o empreendedorismo pode ser uma nova alternativa para que o profissional não fique preso ao mercado tradicional. Apesar disso, para ela o jornalista não necessariamente precisa ser multimidiático como no mercado anterior.

 

– O jornalista pode sair da graduação já obsoleto, que é o que muitas vezes acontece. O jornalista tem que pensar em como empreender junto com as novas possibilidades de tecnologia e de mercado. Tempos atrás o profissional de jornalismo tinha que ser um profissional multimídia. Tinha que saber editar um site, e fazer uma produção audiovisual. Hoje eu acredito que cada profissional pode desempenhar o seu papel. Então você pode sim ser um jornalista que vai escrever somente storytelling.

Rica Perrone: Reprodução

Mattheus Rocha: Divulgação/Novo Jornalismo

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