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como o jornalista pode se renovar a partir das redes sociais

Por Isadora Barros

“O jornalismo impresso está chegando ao fim?”. Quem já escutou a fatídica pergunta conhece bem o debate sobre os rumos do jornalismo. Com a demissão de 600 jornalistas em 2015, a tal crise do meio impresso parece ter batido na porta dos grandes veículos de mídia. Seja “foca” ou “rato de redação”, uma coisa é certa: o jornalista precisa se adaptar à nova realidade do público antenado às novas formas midiáticas. 

 

As redes sociais ocupam hoje um espaço que nenhum meio de comunicação tradicional ousou alcançar. No Brasil, a relação entre o público e as redes é ainda mais forte. Desde que os brasileiros se tornaram mais da metade dos usuários do Orkut, rede social do Google extinta em 2014, o país ganhou a atenção das empresas de novas mídias. 

 

Segundo o relatório Reuters Digital News Report de 2015, o Brasil já consome mais notícias pela internet do que pela televisão e são os brasileiros quem mais se informam pelas redes sociais no mundo. O especialista em novas mídias Gustavo Miller afirma que a paixão do brasileiro pelas redes sociais é cultural e surgiu da necessidade que tem de formar comunidades com interesses comuns. Portanto, os jornalistas e as grandes empresas de mídia não podem mais fechar os olhos para as redes sociais. 

 

Quem utiliza diversos meios para se informar sabe que a linguagem de cada um precisa ser diferente. No entanto, como observa o jornalista multimídia Arthur William, a maioria dos sites de jornais adota o modelo de “crossmedia”, que é considerado ultrapassado. O “crossmedia” a que ele se refere é quando o mesmo texto do veículo impresso, televisivo ou de rádio é publicado na mídia online, sem as devidas alterações.

 

A estrutura dos jornais brasileiros é uma das razões pelas quais o jornalismo fica estagnado: o papel histórico do jornalista na sociedade não implicava na necessidade de se renovar e buscar novos modelos de negócio. Gustavo Miller acredita que o maior desafio do jornalismo hoje é acabar com as ideias antigas da profissão, especialmente a de que o jornalista é o dono da notícia e o único a ter acesso a ela – um “gatekeeper”. Outra dificuldade do jornalismo está em compreender os comentários dos usuários das redes nas páginas de jornais e revistas. “O jornalista nunca precisou se preocupar em trabalhar sua comunicação para atingir o público”, observa Gustavo. Nesse sentido, o jornalismo precisa aprender com a publicidade a fidelizar o público leitor. Diferentemente do site, que praticamente não permite interação, as notícias publicadas no Facebook do jornal O Globo, por exemplo, recebem um feedback imediato, onde o profissional pode entender melhor com quem está falando, o que o público pode saber e mesmo corrigir um erro gramatical ou de apuração.

 

E esta mudança, afirmam os especialistas, deve começar na origem. “Na faculdade, o aluno de comunicação aprende que para transmitir mensagem existe o emissor e o receptor; quando há mais alguma informação, ela é entendida como ruído”, critica Arthur William. Para o jornalista, as faculdades não estão formando profissionais preparados para gerir informação, cargo geralmente ocupado pelos especializados em tecnologia da informação (TI). De acordo com ele, as escolas de comunicação ainda formam jornalistas “conteudistas”, embora, com o acesso fácil aos meios de produção e distribuição de notícias, qualquer pessoa possa ser “conteudista”: “Hoje, qualquer um pode produzir conteúdo jornalístico, mas o princípio da neutralidade, o compromisso de comprovar os fatos e da apuração é trabalho dos jornalistas”.

 

E alerta: ninguém vai ficar de fora. Tanto os jornalistas como as empresas de mídia precisam entender as mudanças trazidas pela internet e, consequentemente, saber como se posicionar. Assim como o rádio se adaptou e encontrou um caminho quando a televisão surgiu, o impresso também deve se reestruturar. “A internet não substitui o impresso. O impresso precisa encontrar sua casa, que não é mais a do jornalismo factual”, conclui. E é ali, na rede social, fantasiada de passatempo, onde o jornalista pode ressurgir.

Gustavo Miller: Reprodução

Você pode ler os artigos de Gustavo Miller sobre o jornalismo e as novas mídias em seu perfil no Medium

 

Para conhecer o trabalho e outras publicações de Arthur William, visite o site pessoal.

Arthur William: Reprodução

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